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Autobiografia Desautorizada

Hoje faleceu Jô Soares e em meio às homenagens a esse grande artista, me chamou atenção o nome de uma de suas obras: "O livro de Jô: uma autobiografia desautorizada". Para além do trocadilho com o texto bíblico, achei genial a segunda parte: AUTOBIOGRAFIA DESAUTORIZADA…


Essa ideia de que há narrativas da nossa vida que não nos autorizamos a contar é tão boa para entender melhor a visão da Psicologia Junguiana sobre a psique e sobre o processo terapêutico!


De um lado, temos a biografia autorizada, aquela do ego… a nossa identidade consciente, com todas as máscaras que vestimos para nos apresentar ao mundo. Ela inclui a imagem que escolhemos passar em nossos perfis em redes sociais, os papéis sociais que desempenhamos e com os quais muitas vezes nos identificamos e todos os discursos que soltamos prontamente quando precisamos responder ao questionamento: quem é você?


Mas não é preciso muito esforço para perceber que essa autobiografia autorizada é uma parte bem pequena de quem verdadeiramente somos… Quantas vezes você já se viu dizendo "fiz tal coisa, mas parecia que nem era eu… não sei o que me deu, eu estava fora de mim"? [E se você pensa que isso nunca aconteceu com você, te convido a pensar de novo…].


Na abordagem junguiana, dizemos que isso acontece quando há a constelação de um complexo autônomo… colocando em imagens para ficar mais fácil de entender, é como se nossa psique fosse composta por vários personagens, vários "eus", sendo que o ego é apenas um deles. Às vezes é o ego que está no comando, mas com muita frequência um desses outros personagens assume a direção, nos fazendo agir de forma contrária à nossa intenção consciente.


É aí que começa a nossa riquíssima AUTOBIOGRAFIA DESAUTORIZADA… as narrativas de todas as partes nossas que preferíamos que não existissem, mas que, não só existem, como podem acabar dominando a nossa vida enquanto insistirmos em negá-las.


Na terapia, nosso trabalho é justamente o de dar espaço para as histórias de todas essas partes negadas em nós. Autorizá-las a existir e a se expressar em um ambiente seguro, permitindo um diálogo equilibrado entre nossos complexos e nosso ego.


Se nos recusarmos a olhar para essa autobiografia desautorizada, os complexos continuarão agindo de forma autônoma e colocando em risco nossa biografia autorizada, a história de nossa vida que queremos que seja contada!


Paula Coury - Terapeuta Junguiana

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